O poder é uma prova de caráter: revela grandeza do homem e expõe sua miséria moral.

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By administrador

Nas longas avenidas da República, onde os símbolos da justiça deveriam erguer-se como faróis de integridade, repousa um edifício com nome sonante: Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público. Um templo da moral, dizem. Um altar da disciplina, proclamam. Um bastião da legalidade — desde que não se olhe para dentro.

Lá dentro, reina um silêncio grave… mas não de virtude. É o silêncio da hipocrisia institucionalizada, da moral de vitrine com porões de podridão.

No púlpito dos julgadores, sentam-se os senhores da toga — os que, de dedo em riste, castigam com severidade os lapsos funcionais dos seus pares. Um erro processual? Um despacho fora de prazo? Cadeia moral! Suspensão disciplinar! Nota desabonatória!

Mas eis que da sombra de uma ata escorregadia, emerge um fato digno de farsa: o Secretário Executivo do próprio Conselho, ainda vestido com o modesto traje de Procurador da República, já há muito desfilava com os dividendos de Subprocurador-Geral — não por mérito, não por promoção, mas por arte de um truque administrativo digno dos melhores prestidigitadores da trapaça.

Pagaram-lhe por uma categoria que não tinha, em silêncio cúmplice e com o selo de um Conselho que deveria ser exemplo, mas tornou-se manual prático de como corromper a legalidade com capa de solenidade.

E quando finalmente o promovem — oh, que milagre! — vem a deliberação dizer:

“Na verdade, ele já exercia como tal.”
Como tal? Desde quando o salário precede a lei? Desde quando a remuneração compra a dignidade do cargo?

O Conselho que pune sem piedade…

…mas paga sem critério.
…corrige os outros, mas não se confessa.
…fala em disciplina, mas vive de desonra.
…é tribunal dos alheios, mas abriga criminosos de paletó institucional.

Chamam-se senhores do rigor, mas não têm moral. São juízes de toga e escudo de papel.

Porque o mais grave não é a fraude. É a naturalização da fraude pela cúpula que exige retidão dos seus inferiores, enquanto dança num palco de favores e impunidade.

Se houvesse vergonha, renunciariam. Se tivessem respeito, devolveriam o erário. Se conhecessem a honra, pediriam desculpas à classe que têm a ousadia de fiscalizar.

Mas não. Preferem o silêncio orgulhoso dos moralistas sem moral.

E assim, o Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público torna-se personagem de sua própria comédia trágica:
O Fiscal sem Espelho.
Pune o erro do outro.
Premia o seu crime.
E segue fingindo ser justiça.

Por: Chivela Alves

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